Primeiramente, qualquer pessoa pode ser um filósofo, conquanto que
possua suas faculdades intelectuais plenamente em funcionamento, pois se
a racionalidade é a primeira exigência para que alguém torne-se
filósofo, e se todos os homens possuem racionalidade, logo todo ser
humano podem tornar-se filósofo. Podemos construir o seguinte silogismo
para demonstrar a universalidade do pensar filosófico :
.
Todo o ser humano é racional.
Para alguém tornar-se um filósofo é necessário possuir racionalidade.
Logo, todas as pessoas racionalmente normais podem ser filósofas.
Esta demonstração tão singela, segundo a qual toda a pessoa,
independentemente de sua condição social e educacional, tem
intrinsecamente o potencial para ser filósofo, não deve ser
negligenciada, pois são justamente as pedras pequenas que nos fazem
tropeçar, e são estas mesmas pedras que tem se acumulado no meio
acadêmico e feito a muitos tropeçar.
E quanto a formação em filosofia, é necessária para alguém tornar-se
um filósofo? Se alguém pensa desta forma, está envolta, mesmo sem saber,
num emaranhado de problemas lógicos. Raciocinemos:
Se alguém quer ser filósofo, necessariamente tem de ter uma educação formal em filosofia.
Sócrates, não teve diploma de filósofo, nem fez parte de uma escola de filosofia.
Logo, Sócrates não foi um filósofo.
Este silogismo é válido logicamente? Não é, pois, não obstante
Sócrates não ter freqüentado formalmente uma escola de filosofia,
ninguém de bom senso dirá, que o fundador na Moral, e do método
científico não era um filósofo. Isto não quer dizer que Sócrates não
tinha contato com o saber de sua época, ou nunca tivesse lido tratado
algum de filosofia; o erro do raciocínio em apreço, compartilhado por
muitos, é reduzir o filosofar a um treinamento numa instituição
educacional qualquer.
É necessário criar um sistema de filosofia, e possuir um
reconhecimento canônico dado pelo tempo para que alguém possa ser
considerado filósofo? Certamente não, talvez funcione desta forma entre
os santos católicos, que por uma convenção clerical, foram
classificados como tais. Em filosofia não é assim. O filósofo não
precisa de um aval do tempo ou de uma instituição, ou o reconhecimento
de uma comunidade para ser filósofo. Façamos outro silogismo:
Para ser filósofo na acepção da palavra é necessário construir um
sistema filosófico; trabalhar como pesquisador e escrever centenas de
artigos científicos.
Sócrates, Diógenes Laércio, Buda( histórico),Confúcio, e Patch Adams e
entre outros, nada escreveram nem construíram um sistema concatenado.
Logo, Sócrates, Diógenes Laércio, Buda, Confúcio e Patch Adams não foram filósofos.
Novamente, o silogismo configura-se patentemente inválido. Sócrates,
por exemplo, nunca escreveu coisa alguma, e não foi por descuido, ele
tinha convicção de que sua filosofia perderia seu significado se fosse
cristalizada num pergaminho qualquer, como podem agora, alguns
religiosos da filosofia acadêmica afirmar, e não são poucos, que
filósofos são aqueles que construíram um pensamento, postaram em
palavras num sistema, e pelo crivo do tempo e reconhecimento geral foram
classificados filósofos? Eu tenho vergonha da filosofia que é feita no
meio acadêmico, principalmente nas universidades federais; já ouvi da
boca de muitos professores, pobres miseráveis: eu não sou filósofo, sou
professor de filosofia, filósofo pra mim é o David Hume! Pelo menos
eles tem a coragem de confessar que não são filósofos, mas veja o lado
bom, se não sabem pensar por si mesmos e se apegam a forma canônica de
fazer filosofia, como o teólogo se apega ao texto de Santo Tomás como
uma autoridade inquestionável, pelo menos não são hipócritas; estúpidos
sinceros é que são!
Afinal de contas, o que é ser filósofo, se não é necessário possuir
um conhecimento formal em filosofia, nem construir um sistema, nem ter o
aval da igreja filosófica que lhe confere o título canônico de
filósofo? Voltemos ao nosso símbolo ocidental da sabedoria humana,
Aristóteles, para quem a filosofia nasce de um sentimento, não de uma
formação acadêmica, ou de um título conferido por homens, conquanto, de
qual sentimento fala Aristóteles? O sentimento necessário para nascer o
filósofo em nós é o espanto, o espanto diante da realidade, o qual nos
deve impulsionar a indagarmos o por que? , tal como por que tudo isto
está aí diante de mim? Ou como Heidegger mais tarde dirá: por que
existe o ser ao invés do nada? ; ou por que devo me basear numa
autoridade da história da filosofia ao fazer um comentário numa aula de
filosofia, se possuo racionalidade? Aos professores das nossas
academias, treinados em Kant, ou em Descartes, (se bem que até os
macacos podem ser treinados), recomendo o novo nascimento, não o novo
nascimento proposto pelo Senhor, ao mestre da lei Nicodemos no
capítulos 3 do quarto evangelho, o qual não é muito diferente, quando
disse: ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer da água e do
espírito ; eu diria aos tais estúpidos sinceros : ninguém pode se
tornar filósofo se não nascer do espanto diante da realidade, e do
pensar próprio!
Escrito por Moisés Do Vale Dos Santos
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